Escrito por F. Boehl e Phelipe Cruz




::Arquivo


Rio de Janeiro, Brasil



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Erika sempre reavaliava sua vida na véspera do ano novo. Pesava todos os seus sucessos e fracassos numa balança imaginária enquanto assistia ao Reveillon do Faustão.
Ficava olhando para a figura rotunda do apresentador e pensando no que havia de diferente entre os dois. Ambos eram gordos e mal-humorados. Faustão, contudo, era bem-sucedido.
Erika queria ser como ele. "Com dinheiro se consegue o que quer". Mas não era só dinheiro que lhe faltava. Queria também amor. Amor era a coisa mais importante do mundo. Sem ele, o mais rico dos homens não passava de um miserável. Pensava também na estupidez do apresentador ao se casar com uma mulher que o via como uma imensa e recheada carteira. "Fausto não é só uma máquina de fazer dinheiro. É um ser humano lindo e merece nosso respeito e carinho".

Achava que ele precisava de uma mulher como ela. Imaginou as mãos gordas do Faustão percorrendo suas coxas brancas em busca de seu sexo. Erika havia gozado no final da contagem regressiva do programa. Perdida em seus devaneios eróticos, não percebeu que estava se masturbando com uma garrafa de champanhe, que ficou entalada, intacta, em sua vagina.

No hospital, por mais que os enfermeiros puxassem, a garrafa não saía. Tiveram que bipar o médico plantonista. Doutor Jorge, também gordo (e mal-humorado por estar trabalhando durante a virada do ano), pegou um martelinho e com um toque no lugar certo, quebrou o fundo da garrafa liberando toda a pressão. Quando a espuma toda explodiu como um brinde atrasado, o médico não se conteve e gritou:
- Ô loco, meu!
Erika sorriu. Algo dentro de si, dizia que 2003 seria um grande ano.


 
- Eu queria tanta usar um vestido justinho branco nesse reveillon!
Mariana era magra, mas tinha barriga. Sua mãe, consciente, tentava evitar o vexame:
- Ah, minha filha. Usa aquela jaquetinha. Fica tão bem.
- Ah, mãe. Não fode!
Além de magra e barriguda, a garota também era mal-humorada. E teimosa. Saiu da loja com um vestido mais justo que Jesus. Quando saiu do provedor, as vendedoras se reuniram no canto para rir. Algumas apontaram, para que a gerente soubesse de quem se tratava.
- Parece uma laranja dentro de uma meia.
Mariana queria conquistar Fabrício a qualquer custo. O garoto era lindo, apesar de meio veado. Não tinha dinheiro, mas morava com a avó numa cobertura na Avenida Atlântica. Ela tinha que conquistá-lo de qualquer jeito. Aquele ano novo seria sua chance. Precisava estar linda, sedutora. Acima de tudo, precisava embebedá-lo. Mas como fazer? O garoto odiava bebida alcoólica.
Na noite de ano novo, a armadilha estava preparada. Mariana havia misturado vodka em todos os pratos da festa. Até a lentilha tinha vodka. Deu meia-noite e a garota empurrava bebida goela abaixo de todo mundo. Terminaram todos bêbados. Até Dona Carmela, a avó de Fabrício, que tinha mediunidade desenvolvida, acabou incorporando a Iemanjá.
Na manhã seguinte, o garoto acordou ao lado de Mariana. Os dois nus.
- Nossa, Mariana, que barriga enorme você tem!
- Nós transamos. Estou grávida, seu crápula.
Fabrício ficou apavorado. Ergueu-se e começou a pular sobre a barriga da garota, que acabou vomitando toda a lentilha.


 
Tudo na vida de Joan era opaco. Sua vida não tinha altos e baixos. Seu drama era não ter nenhum drama. Nada acontecia em sua vida pacata de classe média americana. O marido pagava as contas, a comia semanalmente e era um bom pai. Os filhos tiravam notas boas na escola e não se metiam em confusão.
- Eu não quero vocês usando drogas.
- Mas, mãe, a gente odeia drogas.
- Não interessa. Eu não quero e pronto.
- Mas mãe...
- Já para o quarto!
Depois dessas brigas sem sentidos, Joan se trancava no quarto e chorava. Depois de meia hora, levantava, ligava seu laptop e entrava na Internet. Ela tinha uma web cam e chorava pelada diante de seus interlocutores. Alguns se masturbavam ao vê-la se desmanchando em lágrimas. Depois de um certo tempo, ela percebeu que poderia ganhar dinheiro com isso. Passou a cobrar acesso para seu web site, batizado de cryingfatchick.com. Com o dinheiro veio também a culpa. Como ela, uma mãe de família exemplar, uma dona de casa perfeita e esposa amantíssima, conseguia se despir diante de desconhecidos para satisfazer suas mais estranhas perversões? Sentia-se uma puta barata e vulgar. Com o coração dolorido de tanta culpa, chorava ainda mais copiosamente. Agora Joan tinha um verdadeiro drama. E estava contente com isso.



 
O Natal de Janaina

"Todos nós precisamos de nosso espaço no mundo". Janaina conversava consigo mesma enquanto contemplava da janela da cobertura do Leme, a imensidão do Atlântico. "Eu sou tão pequena diante da grandeza desse mar. Não sei porque me deprimo. A natureza é sempre maior que nossos pequenos dilemas". Acendeu um Derby, deu uma profunda tragada e suspirou liberando pequenos círculos de fumaça azulada. "Quem sou eu nesta vida"?

- Você tá aí falando sozinha feito uma louca e deixou a porra do arroz queimar, Janaina.

O momento de contemplação oceânica fora interrompida por Liana, a filha adolescente da família Almeida Carvalho, para a qual a empregada trabalhava há mais de vinte anos:

- Calma, querida, eu faço outro. Tem horas que a gente precisa se encontrar no mundo.
- Se encontra no fogão, senão ninguém come hoje, ok?

Aquele era um natal especial. A família finalmente havia deixado a Ilha do Governador. Seu Almeida agora era vereador. Dona Rosa queria ostentar a nova fase econômica da família. Chamou para a ceia tios, vizinhos, políticos e parentes importantes do Leblon, que normalmente ignoravam os convites. A dona da casa dava os últimos retoques na decoração da casa e dos filhos, brigando para escolher a roupa adequada. Volta e meia ia até a cozinha para checar o trabalho de Janaina.

- O que tá havendo contigo, criatura? Está toda aérea hoje! Essa comida já era para estar pronta!
- São aqueles dias em que você tem uma sensação de despertencimento desse mundo.
- Sei, sei. (A patroa finge que presta atenção). Falando nisso, a cabeça do peru não pertence ao prato. Quer tirar essa coisa nojenta daqui?

Onze horas e as visitas começavam a chegar. Paulo saiu do quarto com a sua regata predileta mostrando os braços cheios de tatuagem. Recebeu o olhar reprovador da mãe, que havia separado uma camisa de botão. Janaina começou a servir. Já estavam todos sentados à mesa. Menos a filha caçula.

- Gente, onde esta Liana? Com licença, podem começar sem mim.

Dona Rosa abriu portas, banheiros e nada de Liana. Percebeu que ela poderia ter fugido de novo para a casa do namorado da ilha.

- Aquela praga sempre voltando praquele muquifo. Será que ela não percebe que nós não somos mais suburbanos?
- Sabe, dona Rosa, às vezes a busca pelas raízes, pelo passado é a chave para nosso futuro.
- Janaina, me faz dois favores? Um: cala a boca. Dois: vê se o carro está ainda na garagem.

E foi isso que Janaina fez. Passou pela portaria e encontrou Liana, com a calcinha arreada, arfando embaixo do porteiro.
- Liana, isso é hora para fazer isso? - Sexo era uma coisa que não fazia parte da vida da empregada desde que saíra, ainda adolescente, de Volta Redonda.
- Sai de cima dela! - Janaina puxou o porteiro pelas cuecas e levou a menina, que se vestiu enquanto o elevador subia.

O clima já estava pesado. Todos já tinham levantado da mesa. Janaina corre, arrastando a menina para o banheiro, para que ela acabe de se arrumar. Encontra Paulo, o filho do meio, comendo uma prima na pia:
- Paulo! (as duas gritam ao mesmo tempo)
- Porra, fecha a porta!

Janaina estava nervosa. Precisava de um cigarro, precisava ver o mar, sentia-se velha, sozinha. A família já não era a mesma. As crianças haviam crescido. Dona Rosa, antes uma amiga, agora a tratava com frieza. A empregada correu para a sacada. Passou pela sala como um raio. Desviou de cadeiras, mesas, mesinhas, peruas, engravatados, subiu as escadas tropeçando, atravessou o terraço, passou pela churrasqueira, pegou impulso e se jogou do vigésimo andar.

- Este momento parece uma eternidade. A morte não é um fim. É um novo começo.

Enquanto despencava em direção à morte, podia ouvir a voz desesperada de Liana gritando:

- Janaina, sua puta! Você não fez as rabanadas!!


 
Vestidos, coca-light e bala

- O que você acha? (Suzana sai da cabine perguntando sobre o vestido azul)
- Legal!
- Ricardo, até agora você só usou 3 palavras para meus vestidos: legal, tá bom e bonito.
- Quantas você quer que eu use?
- Não é isso, Ricardo. É que eu quero uma opinião mais profunda para me ajudar na escolha. E você não coopera!
A funcionária da boutique tenta ajudar:
- Eu achei o vermelho mais bonito, mas esse ficou com um caimento fabuloso.
- Você fica quieta!
- Que isso, Suzana? Precisa tratar ela assim?
- Tá se preocupando com ela porque? Quero que você se concentre nas roupas. Afinal quem vai pagar é você. Se eu comprar e depois não usar, quem vai gastar dinheiro à toa vai ser você. Percebe que não é um assunto só do meu interesse? (vira-se para a menina da loja) E você traz aquele branco com o decote na perna.
Suzana entra na cabine pela vigésima vez. O marido e a vendedora se entreolham rapidamente. A mulher sai da cabine:
- E esse, Ricardo, o que acha?
- Maravilhoso! Esplêndido! Nossa, que caimento. Que cor! Que vida que deu pra você! Ficou simplesmente lindo!
O eco das palavras de Ricardo ficou no ar. Ninguém falava nada depois do comentário dele. Suzana ficou olhando para ele fixamente. Pra ele e para a funcionária.
- Ricardo, você é um zero à esquerda. (vira-se para a funcionária da loja e fala) Sabe o que é o pior disso tudo? Além de ser uma anta, acaba de ser demitido por fazer fofocas e falar demais no trabalho. No trabalho, é perfeito nos comentários. Mas quando é pra mulher dele, só vem besteira e palavras que não acrescentam nada. Sai daqui, Ricardo. Vai comprar uma coca light pra mim. Toma essa merda! (joga a bolsa no colo do marido)
Ricardo sai vermelho da loja. Vermelho de raiva e vergonha. Depois de 10 minutos tentando esfriar a cabeça, retorna. Sem a coca light. A funcionária avista Ricardo pisando forte e vindo para as cabines. Ia abrindo todas as cortinas com força, tentando achar a mulher. Leandra, a funcionária (aliás, toda coadjuvante merece um nome) aponta para a cabine encostada na parede e cochicha "tá naquela ali". Ricardo abre as cortinas e a mulher nua se espanta:
- Que isso? Deixa a porra da coca lá que depois eu tomo. Eu tô pelada, não tá vendo?
- Eu não trouxe a coca.
- E isso só diz uma coisa. Nem emprego de garçom você pega agora. Trouxe uma coca normal, pelo menos?
- Também não. Mas trouxe isso.

Vinte minutos depois, a polícia cercava a boutique de Ipanema com fitas amarelas e cobria o corpo da mulher nua, com três tiros na testa, tentando evitar o olhar dos curiosos. Leandra, que não conseguia esconder o sorriso no canto dos lábios, disse para a imprensa: Ela tinha o quadril largo demais. Nenhum vestido ficava bom.


 
Suzana era a menina mais linda do Novo Leblon. Loira olhos claros e um belo sorriso. Cintura, peito, bunda, tudo no lugar. Sempre foi uma aluna nota sete, nunca sendo acusada de burra ou CDF. Não era puta nem santinha. Era simplesmente... perfeita.
Perfeito também era o seu namorado Rodrigo, o típico genro que toda a mãe pediu a deus: rico, bonito, de família tradicional católica, estudante da PUC. E marcava um novo rumo no histórico de namorados da menina; que já tinha ficado com jogadores de futebol, maconheiros vagabundos e seguranças de boate. A família de Suzana, que passava por momentos de brigas e confusões, tinha voltado a se reunir à mesa, na hora do almoço. Rodrigo trouxe ares de esperança e novos rumos. A empregada sorria toda boba quando trazia o almoço. O garoto dizia: "Delaci, eu adoro o seu arroz com feijão".

Rodrigo, na cama, era bem heterodoxo. Não gostava do sexo convencional. Pedia para a Suzana fazer absurdos. Ela aceitava: "Afinal, qual o problema? Ele faz é comigo..." O garoto trazia fitas pornôs e imitava tudo com a namorada. E reclamava quando esta não fazia os gritos e as caras direito. Da última vez que transaram, quis cagar na boca da Suzana. A noiva não gostou muito da idéia, mas foi convencida de que no motel tinha pasta de dente e que ela poderia lavar a boca depois. Não custaria nada. E assim, ela fez.

Quando as amigas reclamavam do papai-e-mamãe de seus namorados, ela falava que sonhava com este momento. Elas não sabiam o quanto aquilo era precioso. Dizia que Rodrigo inventava todos os tipos de posições e buracos, que ela chegava a ficar com medo. Numa segunda, voltando da faculdade mais cedo, entra na casa e encontra o namorado em cima da empregada. Fica branca. Rodrigo fazendo sexo convencional com aquela mulherzinha. Chegava até de chamar de "meu amor".

- Rodrigo, seu filho de uma vaca - Suzana explode - por que você não transa assim comigo? Eu também quero o feijão-com-arroz!

Delaci intervém:
- Ai, patroa! Vai no freezer e se serve! Essa mulherada da Barra não sabe fazer nada sozinha!


 
- Eu não quero passar o Natal com vocês!
- Mas que abuso eu ter que ouvir isso, meu filho.
- Mas é a verdade, mãe. Vocês são chatos, controladores, perguntam demais, cobram demais. A comida da ceia nem desce direito. Vocês são infelizes e tudo que não fizeram ou não souberam fazer, acabam querendo que eu faça. Não pensam na minha felicidade. São egoístas e só pensam no que os outros vão dizer de mim.
- Mas da onde você tirou isso, meu filho?
- Eu venho de uma família de médicos de uma classe média privilegiada e escolhi como profissão ser webdesigner. Eu sei que isso machuca vocês.
- Mas meu filho, mexer com computador pode não ser um grande mérito assim como abrir o peito de alguém para mexer em órgãos, mas eu respeito.
- Tá vendo? Não vou passar merda de natal nenhum com vocês.
- E onde você pretende passar? Com outra família? Nem namorada você tem.
- Tá vendo?
- Mas eu to falando mentira, Tiago?
- Não, mas tá cobrando.
- Não é cobrança. É o que se espera de qualquer garoto com 22 anos de idade.
- E o que se espera de uma mãe de 50, é uma vida. E a senhora não tem mais uma. A sua vida é controlar a dos outros.
- Tiago, respeito!
- Sabe mãe... de repente, eu acho que estou indo pro caminho errado. Eu sempre senti vontade e interesse no desenho e confecção de sapatos femininos...
- Você está de brincadeira, né? Já não chega ficar fazendo deseinho em computador? Já não chega você usar calça na praia? Já não chega você comprar discos da Kelly Key? Eu vou cortar sua mesada.
- Ah é? Então eu volto a me prostituir na Avenida Atlântica!
- Ok, mas vai com tuas roupas! Nas minhas você não toca mais.



 
João estava cansado da vida. Aos 28 anos ainda morava com a mãe, não tinha um emprego decente e nenhuma namorada. Sentia-se um fracassado, um loser. O que fazer? Ele não tinha ânimo para nada, nem para chorar. Sua vida consistia em horas deitado diante da TV zapeando por canais sem achar nada que lhe interessasse. Não tinha amigos, os colegas de trabalho eram malas piores que ele. João se sentia num beco sem saída. Não via perspectiva, futuro, alternativa. Depois de uma noite de insônia decidiu que daria cabo em sua vida. Sentou-se diante do micro para escrever uma nota de adeus. Bateu uma preguiça e ele resolveu ficar jogando Tetris.


 
A boceta era a sua arma. Era o seu meio de comunicação. Era a única coisa que Marcela tinha para oferecer. Fez a maioria das amizades assim. No trabalho e na faculdade. A maioria com homem, óbvio. Não se dava bem com as meninas. Estas eram bonitas, falavam de roupas e coisas que ela não vivia. A amizade com os meninos foi fácil. Sentia-se confiante o bastante para bater um papo. "Eles podem até não gostar de mim, mas vão adorar minha racha", pensava Marcela. O engraçado é que ela não era correspondida (ela, a boceta).

Confiava e se orgulhava dela. Ia sem medo porque sabia que carregava o desejo de todos no meio das pernas. Os meninos se espantavam. O que ela oferecia de graça, normalmente se conseguia com muito custo. Fabrício, um colega do trabalho, no meio da roda de amigos, tentava entender: "aquilo deve estar estragado, sei lá...ninguém dá fácil assim".

Marcela deu mole para a faculdade inteira. Ninguém se interessava. Tentou no trabalho. Mas lá todos eram profissionais e não se arriscariam com qualquer menina de fácil acesso. Naquele sábado, Carmem passou em sua casa. Tinha a masculinidade que ela precisava para se sentir confortável e não dizia a conversa fiada das meninas que tanto desprezava. Transaram. Já estavam namorando há mais de três anos. Os colegas do trabalho sentiram novos ares no olhar de Marcela. A garota estava feliz, simpática. Seus olhos não mais os assustavam. Fabrício, na segunda-feira, convidou a colega para sair de noite. Não pensou duas vezes. Colocou a camisinha na pochete e foi.


 
Mariana era uma menina de família até conhecer Rodrigo. Não que o namorado a tivesse levado para o mau caminho. Calma que eu já explico.

Desde pequena, a menina do Grajaú sempre obedeceu a seus valores. Educada pela mãe e pelo pai com cobrança exagerada, aprendeu a seguir o melhor caminho e escolher as melhores companhias. Além de tudo, era uma menina linda. Tinha um sorriso que levava a imaginação dos meninos bem longe. E foram todos estes atributos que fizeram com que Rodrigo se apaixonasse por ela.

O namoro era perfeito mesmo que Mariana deixasse de ver o namorado durante semanas por causa de provas na faculdade. Apesar de Rodrigo reclamar bastante, aquilo lhe fazia sentir que tinha escolhido a garota certa.

Um ano de namoro se foi e Mariana já era convidada de honra da família do garoto rico da zona sul. As irmãs e as primas de Rodrigo, que já tinham trepado com a maioria do bairro, adoravam a menina. Raquel, irmã mais nova de Rodrigo, era lésbica. Respeitava a namorada do irmão e este também respeitava a orientação sexual da irmã. Mas Raquel tinha consciência do tamanho da bunda e dos seios fartos que a cunhada carregava. Só tentava não olhar muito.

Naquele sábado, Rodrigo queria ficar em casa. Tinha alugado um filme na locadora e depois pretendia levar a namorada para a cama e lá ficar a madrugada inteira. Mas Mariana, para o seu espanto, preferiu sair com as meninas para o Castelo das Pedras. Deixou a namorada ir. Não podia proibir. E assim foi durante três meses. Brigas, brigas e duas tentativas de término de namoro. Rodrigo engordou, perdeu cabelo e não tinha mais vontade de trabalhar. Mariana estava mudada. Uma noite, chegou bêbada na casa do namorado, junto com as primas e a irmã. Rodrigo não deixou que a namorada, fedida e suja, dormisse em sua cama. Ordenou que ela ficasse junto das amigas, na sala. E foi o que ela fez. De madrugada, Rodrigo escutou barulhos e gemidos na sala e foi até lá ver. Nem precisava, certo?

Naquele dia, terminou com Mariana. Está fazendo dieta e usando boné. Às vezes, tem notícias da ex-namorada. A última vez que ouviu falar da Mariana ficou sabendo que ela dividia uma quitinete com três caras que ela conheceu na praia. Só dispunham de um único colchonete e faziam vaquinha para comprar cachaça para os fins de semana.



 
Suzana pesava 120 quilos. Além disso, era branca, fanha e com muitas espinhas. Passava o dia todo na Internet, batendo papo no IRC. Com o nick de Morena Tentação, se descrevia como uma negra alta, magra e com curvas perfeitas. Mas esta, na verdade, era Dolores, sua empregada doméstica. Suzana mandava fotos da garota, quando os mais incrédulos exigiam. Algumas vezes, chegava a trocar telefones e obrigava a empregada a conversar enquanto se masturbava ouvindo a conversa na extensão.

Em um desses bate-papos conheceu Michael. O gringo tinha vindo dos Estados Unidos e já morava no Rio há três meses. Apaixonou-se perdidamente pela suposta beldade negra com quem havia conversado pela Internet. Queria conhecê-la de qualquer jeito. Suzana chegou a chorar naquela noite. Alguém tinha se apaixonado por ela. Fez planos mirabolantes e fantasiou toda a sua vida com o gringo loiro, alto, rico e sarado. Minutos depois, percebeu que não era ela quem ele queria. E sim a mulher que tinha inventado:

- Dolores, você vai no meu lugar!
- Tá louca? É ruim, hein!
- Nem discute, garota. Senão eu corto o seu 13º.

Como Dolores estava atolada em dívidas e não era muito esperta, topou. Michael a tinha convidado para um fim de semana em Angra dos Reis. Chegando no hotel, o gringo ficou no bar durante horas e levou Dolores, totalmente bêbado, para um lugar ermo. Então ele a estuprou e matou.

Suzana ficou chocada quando a polícia contou a história e refletiu sobre os bons momentos que teve com a sua empregada, amiga e cúmplice.
- Pensando bem, eu não tinha mesmo dinheiro pra pagar o 13º dela.



 
Leslie era de São Paulo e adorava cariocas. Na sua lista de amigos do ICQ, havia vários. Um deles era especial. Seu nome era Ivan. Era dono de uma rede de churrascarias. Havia um tempo que eles se correspondiam. Tinha a convidado para conhecer o Rio. Ela foi sem pensar duas vezes. O cara levou a garota para um verdadeiro city tour. Bondinho de manhã, Cristo de tarde. Jantaram no melhor restaurante e terminaram a noite num motel em São Conrado com vista para o mar.
Na volta ela não tinha outro assunto. Tudo era Rio, Rio, Rio.
- A paisagem é linda, a Lagoa, o Pão de Açúcar, o Cristo! Praia, montanhas! Não é este lixo poluído que é Sampa.
As amigas ofendidas não falavam nada e Leslie prosseguia:
- E o povo é outra coisa! Tudo malhado, bronzeado e descontraído. Ninguém usa cavanhaque.
- Se você ama tanto o Rio, se muda pra lá. - Uma amiga perguntou quase perdendo a paciência.
Foi o que Leslie fez. Casou-se com Ivan e se mudou para o Rio, largando o escritório de advocacia em que trabalhava, na Paulista. Passou a morar com o marido e a sogra, que usava cadeiras de roda, na Tijuca. Em dezembro, veio passar o Natal com a família.
- Nossa como você está branca, Leslie!
- Ah, tia. Eu trabalho o fim de semana todo na churrascaria do Ivan. Ele não confia em mais ninguém pra fechar o caixa. Durante a semana eu fico cuidando da mãe do Ivan. Menos na segunda, quando ela tem fisioterapia.
- Daí você vai a praia?
- Sim. Mas são só 50 minutinhos de ônibus.

...

Anônimo era um mendigo que dormia nas ruas de Copacabana. Sua calçada preferida era a da Siqueira Campos. Especialmente em dia de feira. Quase nada conseguia acordar o vagabundo. Nem o burburinho do pessoal indo para a praia, nem o barulho do tráfego pesado do bairro. A única coisa que lhe tirava o sono era Camille, uma garota de seis anos que morava com a mãe separada em um prédio perto. Sábado e domingo quando não tinha aula, ela acordava as nove da manhã e saía gritando pela rua com o resto dos amigos. A voz da menina era um misto de sirene de ambulância e Elba Ramalho. Extremamente irritante. Todos os vizinhos tinham vontade de matar o estorvo desafinado. Num domingo de sol escaldante, o mendigo acordou com os berros. Pegou a menina pelos cabelos e a lançou do forte de Copacabana. Os vizinhos ficaram felizes e deram bastante cachaça e roupa velha para o vagabundo. A mãe chorou um pouco, mas logo se recompôs e comprou um cachorro.
- Dá menos trabalho.

...

Aírton era um cara sarado. Morava com a mãe em uma favela no alto da Santa Clara. Todo o dia de sol, descia a rua em direção ao mar de Copacabana. Antes parava em frente ao espelho e ajeitava o sungão, sua única indumentária, de um modo que o pau parecesse maior.
Sua mãe, evangélica, ficava apavorada.
- Que indecência é essa, menino? Pode tirar esse Bombril aí de dentro. Eu vou lavar a louça e os pratos ficam cheios de pentelho.


 
Fabiana era gorda. Foi rejeitada pela maioria dos garotos no colégio. Para se vingar, espalhava que eles eram gays. No trabalho, tinha raiva das amigas que conseguiam os caras que ela tanto queria. Mas era inteligente. Via soluções para os problemas do trabalho de um jeito mais simples que as amigas. Era organizada, simpática e competente. Virou diretora do seu setor em pouco tempo e começou a ganhar o triplo. Demitiu todas as colegas gostosas. Desde então, só contratava meninas acima do peso.

Carola precisava ter ao seu redor pessoas que fossem piores que ela. De acordo com o seu próprio julgamento, lógico. Um namorado mais burro e mais pobre que ela, uma amiga prostituta, um amigo viado e uma piranha que dava pra todo mundo no colégio. Tentava controlar todo mundo a mão de ferro. Sem muito sucesso. O namorado virou chefe do tráfico da favela em que morava e trocou Carola por uma estrela ascendente do funk. A amiga prostituta foi para Portugal e quando voltou para o Brasil, comprou uma cobertura na Lagoa. A piranha se casou com um diretor da Globo e virou protagonista da última novela das sete. Carola perdeu o emprego. Acabou tendo que morar com o amigo viado, que chegava bêbado em casa e espancava a amiga sempre que ela esquecia de lavar e passar as roupas.

Rita fumava maconha desde a puberdade. Libertava a sua mente para os trabalhos publicitários da faculdade. Fez vários amigos maconheiros. Um destes lhe arranjou um estágio numa agência carioca. A garota dizia abertamente a todos que fumava. No trabalho, fingia que era redatora, fazendo slogans clichês para produtos inexpressivos. Por um tempo, foi feliz. O tesão reprimido que sentia por mulheres veio à tona e não fez nada a respeito. A agência começou a perder clientes, demitiu o redator e a promoveu para seu lugar, mas mantendo o salário de estagiária. Com a ajuda de outro amigo, conseguiu uma entrevista em uma agência paulista. Era tudo que queria na vida. Durante a entrevista, ficou super à vontade. Ganhou a simpatia do diretor de criação, mas foi logo descartada quando disse que amava Bob Marley, Peter Tosh e queria morar na Jamaica.

Carlos queria uma namorada melhor. A sua não tinha aquela bunda gostosa como a da namorada do Herculano. Quando saía com o amigo, este fazia questão de falar como comia a adolescente. Posições, gemidos, truques e as mordidas preferidas da Cíntia. Carlos já estava cansado de cinco anos de sofá aos domingos na casa da família da namorada. A menina tinha se acomodado. Já conhecia Carlos o suficiente para conseguir o que queria e gostava de fazer sempre a mesma coisa na cama. Aos sábados, iam ao baile funk do subúrbio. Da última vez, Herculano e Cíntia, foram juntos. A namorada de Carlos queria água, estava cansada e desidratada. Na fila do caixa, Cíntia puxa Carlos pela mão e o leva para o banheiro. Tranca a porta e desabotoa a calça. No domingo seguinte, Carlos nem se importou quando a namorada o pediu pela enésima vez que lambesse sua vagina. E daquela vez, nem ficou chateado com os pentelhos que ficavam presos em seus dentes.