Escrito por F. Boehl e Phelipe Cruz




::Arquivo


Rio de Janeiro, Brasil



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Deodato estava dentro do ônibus, indo pra academia. Fazia um ano que malhava sério. E dois meses que finalmente tivera a coragem de usar anabolizantes. Estava em estado de testosterona pura. E esse foi o azar de Katiuscia. A garota teve a infeliz idéia de pedir um cigarro para o namorado e acender dentro do ônibus. E nem na janela estava. Deodato sentiu aquele cheiro e logo procurou quem fumava. Olhou para o cobrador e o para o motorista. “Esses filhos da puta sempre fumam no ônibus”, pensou. Mas não eram eles os responsáveis. Olhou para o último banco. O paraíba sentado no banco de trás também era inocente.

Em outros tempos, o marombeiro teria deixado isso pra lá. Daria de ombros, pensaria na merda de país que o Brasil é, faria uma careta e nada mais. Mas agora a situação era diferente. Ele era uma massa de músculos anabolizadas extremamente irritável. Arrancou o cigarro da mão da garota que gritou de susto. Anselmo, o namorado, nem reagiu. Deodato arrastou Katiuscia pelo cangote até a frente do ônibus.

- Tá vendo aquele desenho dum cigarro com um risco vermelho? Tá vendo, sua mula?
- Me solta, seu louco! Anselmo, faz alguma coisa!
- Cala a boca, garota e presta atenção. Aquilo ali diz que é proibido fumar, tá sabendo? É um desenho para que até analfabeto entenda, mas parece que tu não entendeu.

O povo olhava espantado aquela cena. Uns aplaudiram. Outros vaiaram. Mas quando Deodato olhava, todos paravam. Katisucia ficou com raiva do brutamontes lhe dando lição e enfiou as unhas no rosto do agressor.
- Me larga, seu filho da puta! Me larga!
Deodato explodiu.
- O que tu nem nessa cabeça, sua vaca? Pensa que tá no banheiro da tua casa e que pode fazer o que quiser? Não liga pros outros, não? Acende essa coisa nojenta e espera que eu respire? Isso me dá o direito de fazer o que bem entendo também.
Jogou a garota no chão do ônibus, baixou as calças (as dele) e cagou em cima da Katiuscia.
- Nem reclama, garota. No meu caso, nem tem sinal me proibindo de fazer isso.


 
O monge e o escorpião

Monge e discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o animal na mão. Quando o trazia para fora, o bichinho o picou e, devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Decidido, tomou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez a correr pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou. Voltou o monge e juntou-se aos discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.

- Mestre, deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!

O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu:

- Pois é! Que uó que eu sou.



 
Herculano tinha o carro do ano. Tinha a namorada mais bonita da faculdade. Tinha o maior pinto do vestiário. Tinha as melhores notas. Tinha as melhores roupas. Tinha o melhor som no carro. Tinha o melhor estágio. Tinha tudo o que sempre queria. A família tinha dinheiro. Todos moravam num duplex em Ipanema. Ali Herculano nasceu. E viveu. Seu Jorge da padaria o conhecia desde bebê, quando Dona Angélica o trazia no colo para comprar pães. Adorava o rapaz. Batia no ombro do estudante de direito e dizia: "te peguei no colo"!

De uns tempos para cá, Herculano andou roubando a padaria. Ele e mais uns três amigos. Seu Jorge fingia que não via. Fazia vista grossa para os pequenos furtos dos garotos. Afinal a padaria tinha muito lucro e não queria confusão com a família tão simpática e atenciosa. Mas Herculano continuou roubando.

Um dos funcionários da padaria contou para Seu Jorge que foi entregar cerveja lá em cima e viu os dois amigos do Herculano se beijando. "Aí o filho da Dona Angélica olhou pra minha cara e riu. Ele estava alterado, estranho. Eles riam à toa e muito alto. Um amigo dele era meio viadinho e ficou balançando o pau pra mim. Eu nunca mais volto lá, Seu Jorge. O senhor pode até me demitir por causa disso e eu até vou entender que foi por causa disso mas se eu tiver que pisar naquela casa de novo eu prefiro até que o senhor me demita mesmo de verdade".

Assim Seu Jorge fez. Demitiu o empregado que já não trabalhava mais como antigamente. E depois daquele dia, fez questão de entregar as encomendas pessoalmente.



 
Márcio entrou no elevador do prédio chique do Leblon. Carregava apetrechos de vôlei de praia. Marina estava descendo no mesmo elevador, saindo de uma consulta com a sua analista. O cheiro de cecê e maresia mexeu com os sentidos da moça. Olhou de cima abaixo aquele carioca de 39 anos que ganhava a vida na praia, de sunga, jogando vôlei. Pensou em bobagens. "Nossa. Imagina esse macho bronzeado em cima de mim". Por um momento, pensou em apertar o botão de emergência. "Será que isso faria o elevador parar?" Deu uma risadinha e pensou como estava safada hoje. Fechou os olhos e desabotoou um botão da blusa. Enfiou a mão por dentro e ficou alisando os seios. A outra mão, colocou dentro da calça. Suspirava, aspirando fundo o cheiro de homem que impregnava o elevador. Olhava para Márcio e sorria. Nem percebeu que os andares tinham passado rápido e que já estavam no térreo. Com a porta aberta, uma fila inteira de pessoas olhavam para ela. Márcio logo se defendeu:
- Eu não fiz nada!
Mariana ficou puta e saiu esbravejando:
- Tão olhando o quê? Bando de tarados!